Tem exatos 29 anos que eu vislumbro um cenário perfeito de férias: tirar o mês de outubro para ficar em São Paulo e conseguir assistir o máximo possível de filmes na Mostra Internacional de Cinema. Já dei check nesse plano: não! Mas fui a pelo menos um filmezinho nessas quase três décadas em que pratiquei o modo “cinéfilo da Mostra”, uma categoria diferente do cinéfilo tradicional.
Cinéfilo da Mostra é aquela pessoa que gosta de conhecer os cantões do mundo pouco usuais no circuito comercial, para quem o Abas Kiarostami, diretor iraniano, é Deus, e que trata com normalidade assistir a um filme tailandês com duas legendas: uma em francês e outra em russo, mesmo sem dominar nenhum dos três idiomas disponíveis. Cinéfilo da Mostra não liga para perrengue, de subir correndo a Augusta, no Cinesesc, para chegar em tempo da próxima sessão no Espaço Unibanco, ops Itaú, e depois enfrentar uma fila gigante para entrar.
E foi com esse saudosismo em mente, que sorri ao ver aquele monte de gente esperando para ver Anatomia de uma Queda, no Espaço Itaú do Frei Caneca, nesta quinta-feira (19), meu primeiro filme deste ano, o vencedor de Cannes, falado em francês e inglês, perfeitinho.
Antes de entrar, fugi da fila -já não tenho o mesmo pique de antes para passar mais de uma hora em pé esperando-, fui tomar um café fraquinho -o filme começou às 21h, tinha que me manter acordada sem estragar o sono depois- e comi um pão de queijo vegano -acho que não existia nada vegano para vender em 1994.

Café tomado. Memórias remexidas. Uma olhadinha na lojinha do café e os queridos produtinhos temáticos da Mostra estavam lá, menos o catálogo, que ainda não ficou pronto, e outras coisinhas que já esgotaram logo no primeiro dia! Mas ainda tinha camiseta, cartaz, bloquinho, lápis, esse tipo de quinquilharia que a gente compra feito criança na saída do parque.

Fui uma das últimas a entrar. Os ingressos da Mostra não costumam ser numerados -olha aí o problema da fila que persiste-, mas eu não ligo. Prefiro sentar na frente, sem nenhuma cabeça entre mim e a tela.

E foi isso que aconteceu. Só tinha lugar na primeira fileira, meia hora de atraso e para compensar um filmaço de duas horas e meia de duração. Filme de ator, melhor dizer filme de atriz, com história adulta, de quem sabe que a vida não é 8 ou 80 e que o que se é dito numa briga de casal nem sempre é o que se quer falar. Filme de gente grande.

Links:
Filme Anatomia de uma Queda https://47.mostra.org/filmes/anatomia-de-uma-queda-47a
Mostra Internacional de Cinema de São Paulo https://47.mostra.org
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