Escrever sobre si próprio para um jornalista pode ser uma tarefa ingrata. Habituados que somos a contar histórias que não são as nossas próprias, virar o holofote para si mesmo é, no mínimo, instigante. Foi a partir dessa provocação do Board Academy Br que encarei esse “exposed” da minha nova empreitada profissional: a formação de conselheira para atuação em empresas.
Comparando minha trajetória dos últimos 15 anos em relação aos primeiros 15 – sim, já se passaram 30 – identifico vários pontos de sintonia e de dissonância entre eles, é claro. Mas os momentos que mais me dão orgulho passam, de alguma maneira, por solucionar problemas.
Mas a comunicação soluciona problemas? Minha resposta é simples e sonora: Ô! Inclusive, recorri a alguns autores que sustentam a mesma opinião. O mais explícito é Alexandre Rangel, autor do best-seller “O que podemos aprender com os gansos”. Logo na apresentação, Rangel entrega o ouro: “Sempre digo que as três coisas mais importantes para melhorar a qualidade e a produtividade em uma empresa são: em primeiro lugar, a comunicação; em segundo lugar, a comunicação; e, em terceiro lugar, a comunicação”.
Em 2003, quando o livro foi lançado, estávamos nos tornando uma sociedade hiper informada. De lá para cá, nós, comunicadores, passamos a orientar pessoas e empresas a produzirem conteúdo. Empresas são comunicadoras, têm tom de voz e as que não falam perdem a oportunidade de liderar o diálogo. Era esse mantra que repetíamos a clientes. E não estávamos errados. Acredito que as empresas realmente podem e devem ter esse papel. Participei da concepção de dezenas de veículos de comunicação corporativos e planejamentos de sites e canais de redes sociais com esse perfil.
Mas minha inquietação hoje em dia é: isso funciona? Soluciona qual problema?
Vivemos a era da hiper informação. Nunca se produziu tanto conteúdo no mundo. Enquanto você lê este texto, milhões de posts foram produzidos. Em 2021, o Instagram contabilizava 95 milhões de fotos publicadas por dia. Esses dados são de três anos atrás, e estou falando apenas do Instagram.
E o que acontece quando todo mundo fala ao mesmo tempo? Ninguém presta atenção no que o outro está dizendo. Ninguém se ouve. É uma mistura de infotoxicação generalizada com estado narcisístico. E isso não é comunicação.
Adoro resolver problemas com estratégia e visão de comunicação, mas a verdadeira comunicação – aquela que sabe onde quer chegar e com quem quer falar, que sabe ter alcance legítimo e qualidade de engajamento, que traz reputação e traduz temas complexos para quem precisa entender, que tem compromisso com a verdade e não abre mão da ética.
Por isso, acredito que as empresas ganham sobremaneira quando convidam para se sentar à mesa do Conselho os profissionais de comunicação. Essa visão estratégica traz o equilíbrio entre os extremos “falar muito-falar nada” para o falar o que importa, na medida exata e que traga resultados reais para os objetivos que se quer alcançar.