ASSASSINOS DA LUA DAS FLORES E BARBIE – MULHERES NO OSCAR

Carey Mulligan, Lily Gladstone, Margot Robbie, Annette Bening, Emma Stone e Greta Lee (Foto: Austin Hargrave)

Tirei esses dias de Carnaval para assistir aos filmes indicados ao Oscar que ainda não tinha visto. Aliás, falar que “vou ver os filmes do Oscar” é, para mim, uma abreviação de um pensamento muito mais elaborado e por isso mesmo mais longo. Acompanhar o que a Academia de Hollywood selecionou para ficar entre os cinco mais em diversas categorias não é a garantia de ver o melhor, mas é entender a linha de raciocínio que os votantes estão seguindo, o que estão valorizando, quais são os queridinhos da vez, quem segue sendo unanimidade e por aí vai. É como um editorial de primeira página que os jornais publicam quando querem expressar sua opinião. Os indicados e os vencedores acabam criando entre si esse elo, que nos permite fazer uma leitura de cenário, de tendência, mesmo que muitas vezes apontem -ou não- para o blockbuster do momento. E, sem dúvidas, a questão da mulher, com todos seus contornos, é um tema em comum entre a maioria dos filmes.

De cara, assim que saiu, assisti a Oppenheimer no cinema. Fui abduzida pela interpretação do Cillian Murphy em Peaky Blinders, com seu amado e odiado Tommy Shelby, por isso queria vê-lo na tela grande, sem interrupções. O filme é ótimo, tudo feito no capricho, com uma história incrível, elenco perfeito e aquela mão de diretor-midas que o Cristopher Nolan tem. Mas filme de menino-homembranco-donodomundo. Depois assisti Anatomia de Uma Queda na abertura da Mostra de Cinema de 2023. Filmaço. Esse sim um filme para mulheres, para aquelas que convivemos com o vitimismo insuportável masculino e nos identificarmos e torcermos pela mãe, escritora, mulher talentosa e resiliente que está sendo julgada. A atuação do garoto, filho do casal, Milo Machado-Graner na vida real, é marcante.

Os filmes às vezes têm núcleos internos, o que faz a gente se interessar mais por um deles e ter vontade de acelerar quando entra na parte do outro. No caso de Anatomia, isso não me aconteceu. O próprio roteiro obriga as personagens principais a se isolarem, e suas histórias vão sendo contadas em paralelo. Confesso que muitas vezes a parte do garoto, que poderia ser secundária, foi a que mais me agradava. Paro por aqui, porque mais que isso vira spoiler.

Depois vi Vidas Passadas. Um filme sensível. Tenho muito a falar sobre ele, mas estou me afastando do objetivo desse texto, então volto a ele outra hora. Nesse Carnaval, por enquanto, vi Assassinos da Lua das Flores (AppleTV) e Barbie (HBO). Assim nessa ordem.

Não gostei de Assassinos da Lua das Flores. Nem todos os filmes de guerra, holocausto, crianças mal-tratadas e crimes hediondos que assisti na vida me deixaram tão angustiada como esse. Que história cruel. Não a conhecia, e já achei absurdo não ter ouvido falar dela antes. Fico imaginando, sem a menor comprovação histórica, que foi mais ou menos em situações como essas que os rednecks -os conservadores americanos- passaram a existir com toda essa carga de preconceito, ódio e abuso que associamos a eles. Sr. Martin Scorsese pegou seu alter-ego Robert De Niro e o seu segundo preferido, o Leonardo DiCaprio, e deu a eles os personagens verídicos mais escrotos do cinema. E eles são atores tão maravilhosos e o Scorsese é tão meticuloso, que aquela maldade me afetou de fato. Entrei de cabeça na história. Nem consegui ver o filme de uma vez, não porque ele é longo, mas porque não dava. Precisei ir pro Google, buscar entender se o Scorsese estava exagerando ou se era aquilo mesmo. Quando li e descobri o desfecho, aliviei um pouco, tirei o peso do coração e consegui terminar. Foi difícil. Por isso não gostei. Jamais esquecerei desse filme. Óbvio que ele é sensacional como cinematografia. Mas foi sofrido demais para mim.

O que ampliou a dificuldade em seguir assistindo, sem desligar e mandar tudo às favas, é a personagem da Lily Gladstone, a osage Mollie Burkhart. Lily já ganhou todos os prêmios a que concorreu até agora com essa atuação e merece mais. Vai levar o Oscar. Ela me lembra muito, tanto na atuação como fisicamente, a meiga Melanie Hamilton, interpretada por Olivia de Havilland, em E O Vento Levou. Tanto Mollie quanto Melanie passam boa parte da história deitadas, enfermas, e vamos acompanhando suas aflições minuto a minuto, torcendo para que se recuperem. Melanie foi amada, até a prima explosiva Scarlett O’Hara lhe tratava bem, apesar de amar seu marido. Já Mollie…

Selecionei umas imagens para dar razão a essa minha teoria de que são personagens parecidas:

Melanie e Scarlett em E O Vento Levou e Leo e Mollie em Assassinos da Lua das Flores

Mollie e sua irmã Anna

Melanie com penteado e leque iguais ao de Mollie

Hi, Barbie!

E dois dias depois dessa angústia, vi Barbie para aliviar. Considerei ver Barbie no cinema quando estreou, mas as filas me espantaram. Todo mundo me perguntou se eu tinha visto, como se fosse mais ou normal que eu me interessasse. Claro que eu queria ver, mas os dias passavam e eu não via. E a verdade é: eu gostei de Barbie. Eu gosto da Barbie. Eu só tive uma Barbie na vida, que andava de bicicleta (eu não sei andar de bicicleta, e a minha Barbie sabe!), e ganhei essa boneca quando já estava parando de brincar. Eu fui daquelas que amavam a Susi, antes da Barbie ganhar o Brasil. A verdade é que eu amo boneca, brincar de boneca e tenho várias. Tentei muito que as crianças próximas de mim gostassem de bonecas, mas nada. Eu amo o universo da Barbie e esse mundo pink, cor-de-rosa, tons pasteis -candy colors- e fofurices do gênero. E foi isso o que mais me encantou no filme. É uma graça ver aquelas coisinhas que faz a diversão da brincadeira, a cozinha, o armário, as roupas e o carro da Barbie representadas no cenário. É tão bem feito, tão bem sacado. Delícia.

Mas e o feminismo, não foi por isso que te perguntavam se você viu Barbie?

Sim, claro, o feminismo está lá. Bacana demais ter essa defesa de que a Barbie possibilita que as meninas sejam o que elas quiserem ser. Bacana demais também terem assumido que a figura da Margot Robbie é a Barbie estereotipada, a imagem que temos quando pensamos em Barbie. É real. Parece que os roteiristas pegaram todas as opiniões dos haters e responderam tudo a altura. Achei bom mesmo. Sempre fui feminista, menos por pensar no feminismo, mas mais por defender e brigar e me indignar e xingar quem não vê o óbvio, de que temos os mesmos direitos, enfim, o básico do básico.

Fico feliz quando vejo Hollywood com toda sua força ridicularizar o patriarcado, os estereótipos masculinos que incluem TV grande na sala, cavalos, pick-ups, músculos e muita cerveja. É engraçado. Mas também é maniqueísta. O final dá uma equilibrada e tenta se redimir para não ser Barbie no céu e Ken no inferno ou vice-versa.

A primeira vez que me perguntaram o que eu achava sobre a situação da mulher no ambiente de trabalho, eu respondi o que me veio na hora, sem ter tido até ali muita elaboração sobre o assunto. Essa conversa aconteceu em 2001, no Freedom Forum, em Buenos Aires, em um curso chamado “jovens lideranças femininas nas redações de jornais da América do Sul”. Eu estava lá representando a Folha. E o que eu falei foi meio na contramão do que as outras mulheres, mais conhecedoras e estudadas no tema, defendiam. E, de maneira um pouco mais bem pensada, afinal já se passaram muito mais de 20 anos e o assunto ainda é O assunto de nós mulheres, eu continuo achando quase a mesma coisa. A mudança que tanto queremos, o respeito, o fim do preconceito, o acesso irrestrito, depende do apoio e da empatia dos homens. Eles precisam fazer parte da nossa luta para que ela aconteça na prática. A polarização é ruim. Eu só queria ter a Casa do Sonhos da Barbie, mas não é por isso que o Ken tem de ficar sabe Deus onde (essa parte do filme, quando ela se dá conta de que o Ken nem tinha um lugar para ficar, é ótima).

Que bom que Barbie conseguiu colocar esse tema dessa maneira escancarada e que tenha sido um sucesso de bilheteria. Acho curioso que o Ryan Gosling (o Ken original) concorra a ator coadjuvante, e nem a Margot (a Barbie estereotipada, encarnada e neo feminista) nem a Greta (diretora) estejam concorrendo. Acho injusto e ruim. Honestamente, não acho que Barbie merece melhor filme. A estrondosa bilheteria merece ser reconhecida, como foi no Globo de Ouro. A Margot nasceu para ser a Barbie, mas não acho que seja interpretação para Oscar de melhor atriz. O Ryan só está lá porque concorre a ator coadjuvante.

Minha torcida para a noite do Oscar é que ele não ganhe, o De Niro ou o Downey Jr (Oppenheimer) merecem mais, são melhores etc outros argumentos fáceis. E que Barbie leve o de roteiro adaptado (difícil…) e todos os outros prêmios técnicos a que concorre. E que a Greta e a Margot subam ao palco nesses momentos e façam um grande discurso sobre como Hollywood segue sendo antiquada e que fizeram uma grande bobagem ao indicar o Ken e não a Barbie. Não pela atuação do Ryan, mas pelo que isso significa no contexto: um filme de empoderamento feminino que reconhece um homem. Mais uma dessas contradições dos votantes.

Lily Gladstone, como já disse, vai levar o de melhor atriz. A personagem que ela interpreta existiu em carne e osso. É uma mulher osage, povo originário da região de Oklahoma (EUA), que viu suas irmãs serem assassinadas por um delírio surreal de ganância extrema. Por isso acho que Assassinos é um filme também feminista. Se a Barbie representa a objetificação da mulher, com Mollie, é a nulidade. A Barbie é mulher-troféu, que se quer possuir e exibir. Mollie é a mulher que vale mais morta do que viva, que se quer descartar, mesmo que ela seja mãe, mesmo que ela seja visionária e sagaz, mesmo que ela seja carinhosa e cuidadora e mesmo que seu marido a ame. Dois filmes interessantes, com abordagens diferentes sobre o machismo e que gritam por uma reparação histórica para as mulheres de todas as épocas e em todas situações.

A MOSTRA

Tem exatos 29 anos que eu vislumbro um cenário perfeito de férias: tirar o mês de outubro para ficar em São Paulo e conseguir assistir o máximo possível de filmes na Mostra Internacional de Cinema. Já dei check nesse plano: não! Mas fui a pelo menos um filmezinho nessas quase três décadas em que pratiquei o modo “cinéfilo da Mostra”, uma categoria diferente do cinéfilo tradicional.

Cinéfilo da Mostra é aquela pessoa que gosta de conhecer os cantões do mundo pouco usuais no circuito comercial, para quem o Abas Kiarostami, diretor iraniano, é Deus, e que trata com normalidade assistir a um filme tailandês com duas legendas: uma em francês e outra em russo, mesmo sem dominar nenhum dos três idiomas disponíveis. Cinéfilo da Mostra não liga para perrengue, de subir correndo a Augusta, no Cinesesc, para chegar em tempo da próxima sessão no Espaço Unibanco, ops Itaú, e depois enfrentar uma fila gigante para entrar.

E foi com esse saudosismo em mente, que sorri ao ver aquele monte de gente esperando para ver Anatomia de uma Queda, no Espaço Itaú do Frei Caneca, nesta quinta-feira (19), meu primeiro filme deste ano, o vencedor de Cannes, falado em francês e inglês, perfeitinho.

Antes de entrar, fugi da fila -já não tenho o mesmo pique de antes para passar mais de uma hora em pé esperando-, fui tomar um café fraquinho -o filme começou às 21h, tinha que me manter acordada sem estragar o sono depois- e comi um pão de queijo vegano -acho que não existia nada vegano para vender em 1994.

Cartaz alto astral do filme

Café tomado. Memórias remexidas. Uma olhadinha na lojinha do café e os queridos produtinhos temáticos da Mostra estavam lá, menos o catálogo, que ainda não ficou pronto, e outras coisinhas que já esgotaram logo no primeiro dia! Mas ainda tinha camiseta, cartaz, bloquinho, lápis, esse tipo de quinquilharia que a gente compra feito criança na saída do parque.

Caderninho da 47ª Mostra, com arte do Antonioni, homenageado do ano

Fui uma das últimas a entrar. Os ingressos da Mostra não costumam ser numerados -olha aí o problema da fila que persiste-, mas eu não ligo. Prefiro sentar na frente, sem nenhuma cabeça entre mim e a tela.

Abertura da Mostra, sem cabeças à minha frente

E foi isso que aconteceu. Só tinha lugar na primeira fileira, meia hora de atraso e para compensar um filmaço de duas horas e meia de duração. Filme de ator, melhor dizer filme de atriz, com história adulta, de quem sabe que a vida não é 8 ou 80 e que o que se é dito numa briga de casal nem sempre é o que se quer falar. Filme de gente grande.

Cartaz dramático do filme

Links:

Filme Anatomia de uma Queda https://47.mostra.org/filmes/anatomia-de-uma-queda-47a

Mostra Internacional de Cinema de São Paulo https://47.mostra.org

A MAIS FORTE DE TODAS

Para todos que indiquei a dra. Isa Kabacznik, e foram muitos, de largada eu já avisava que eles iriam melhorar só de olhar para ela.

Não me lembro como cheguei ao seu consultório, na rua Tusiassú, em Perdizes, por volta de agosto de 2009. Eu andava com uma depressão danada, e mais do que medicamentos, ela de cara me deu ombro, colo e amizade.

Dra. Isa Kabacznik faleceu enquanto dormia, nesta quinta-feira, em seu apartamento na rua Cardoso de Almeida, aquele prédio ali em cima da Ofner, mas sua janela dava para a igreja São Domingos.

Nunca fui lá, mas durante anos de longas conversas, que iam de considerações sobre o jornalismo atual a histórias de como seus pais, judeus refugiados, chegaram a Belém (PA), onde ela nasceu, sempre passávamos pelo mesmo assunto: o nosso bairro.

Éramos quase vizinhas, morávamos na mesma direção, cada uma de um lado da avenida Sumaré. Ela sempre esquecia esse detalhe, e terminava a consulta com um: “ah é, a gente se vê daqui dois meses, Ana Lúcia, e não esquece que a psiquiatra não existe só para te dar receita, a consulta é importante”.

A consulta era muito importante. Nos últimos tempos, com a pandemia, não tivemos a chance de nos encontrar, para aquele abraço demorado. No entanto, falávamos com muito mais frequência. Eu precisei mais dela nesse período, e gosto de acreditar que, de alguma maneira, ela podia desabafar um pouco comigo. Para uma pessoa com dificuldades respiratórias graves, que andava com um respirador 24 horas por dia, a Covid foi cruel.

Mas a dra. Isa era forte, a mais forte de todas. Me indicou a melhor psicóloga que conhecia, a melhor ginecologista que existia. Sou paciente de todas elas. Tinha soluções práticas para todas as minhas reclamações. Me mandou mudar para mais longe de São Caetano se aquela conexão ainda me incomodava. Me mandou colocar ar-condicionado pela casa toda se a minha alergia ao calor piorasse. Não fiz nada disso. Mas entendi a lógica da coisa. E ela dava o melhor exemplo: como amava andar na praia, mas com o respirador a tiracolo era impossível, fazia passeios de charrete, e assim podia sentir o vento e o cheiro do mar.

Viagens era o nosso assunto também. O amor pela Praia do Forte, na Bahia, onde ela adorava passear pelas ruazinhas, olhar as lojas e ficar parada em frente à igrejinha vendo a vida passar. Lá é tudo plano, tem pedras, mas era mais fácil de se deslocar.

A última vez que estive na Praia do Forte, em outubro de 2020, fiz a foto da igrejinha pensando nela. Também amo esse local.

E tinha também a viagem que fez pela França, de carro, tomando vinho, numa situação que parecia muito romântica. Mas ela era discreta, não fornecia muitos detalhes.

Dra. Isa era boa de papo. Tinha histórias épicas, um orgulho danado de tudo que pode realizar como presidente do Comitê Multidisciplinar de Adolescência, da Associação Paulista de Medicina, e uma alegria sem fim de contar as peripécias do neto.

Entrar em seu consultório pela primeira vez era um choque. Ali estava uma mulher baixinha, com visíveis deficiências, mas com uma energia e uma determinação sobrepujantes. Nenhuma doença era páreo para aquela vitalidade surpreendente. Por isso a gente melhorava mesmo só de olhar para ela.

Dra. Isa deixa uma filha, Larissa, uma fiel escudeira, a Raquel, e centenas de pacientes, admiradores e amigos.

BURNOUT E MENOPAUSA: UM COMBO MATADOR

Isso é por causa da pandemia, diriam muitos ao ouvir minha história. Mas a pandemia, nesse caso, não é a única culpada. Meu diagnóstico é bem mais simples e muito mais comum, sou uma vítima do stress. Um stress exagerado, que passou a fazer parte da minha rotina há muitos anos, sem eu me dar conta da sua potência e dos riscos que me causavam.

Tudo começou em 2017. 43 anos. A data é o de menos, mas a idade é relevante. Nos meus anos trabalhando em redação, aprendi com os diversos obituários inesperados, aqueles casos que surgem de repente e deixam todo mundo surpreso, que os 43 eram anos perigosos para os homens. Luis Eduardo Magalhães, em 1998, e Bussunda, em 2006, estão entre os mais conhecidos que morreram nessa mesma idade, vítimas de infartos fulminantes. Logo, na minha lógica médica baseada em nenhum fato comprovado, eu não corria esse risco já que parecia ser coisa de homem e não de mulher.

O que eu não considerava eram os fatores de risco, o estilo de vida. Não, não é lifestyle, verão em Ibiza, champanhe com amigos em um iate e centenas de recebidos de marcas de luxo na porta do meu prédio. Era estilo de vida de risco mesmo. Dormir 4 horas por noite, pouca ou nenhuma atividade física, álcool 5 vezes por semana, várias refeições realizadas dentro de taxis -normalmente um pão de queijo com café às 15h30-, ex-tabagista-fumante de happy hour, 10 horas em média de trabalho por dia mais finais de semana checando e-mail e WhatsApp (que roubou o tempo de respiro entre um e-mail e outro), tudo isso com o cenário da poluída cidade de São Paulo, a responsabilidade de cuidar sozinha de duas casas, um filho, um cachorro e uma mãe que passou por três aneurismas (1 cerebral e 2 na aorta) nos últimos 20 anos. Resultado: stress.

Longe de achar que foi um privilégio meu essa vida cheia de tarefas. Conheço dezenas de histórias de pessoas que foram muito mais complicadas que a minha. A maioria inclusive não teve chance de compensar com férias deliciosas como as que pude proporcionar para minha família. Como me disse um ex-sogro uma vez: você quis, agora faça. É isso. Eu quis. Eu nasci com privilégios que me permitiram sonhar e realizar. Mas meu sonhos chegaram com responsabilidades, e nunca fugi de nenhuma delas. Inclusive vivo arranjando mais.

Não é lamentação, mas constatação. Eu estiquei a corda demais, e não me dei conta de que ela estava por um fio. Foi em 2017, após o diagnóstico de uma lesão no colo do útero e a obrigatoriedade de me manter calma para fazer meu corpo expulsar naturalmente os vírus do HPV dali, que descobri que não conseguia dominar nem o stress nem minha imunidade. Durante um ano, a cada três meses, realizava exames para identificar o tamanho da lesão e os tipos de vírus encontrados nela. Os vírus de números 16 e 18 causam 70% dos casos de câncer de útero. Eu tinha os dois. As lesões se aprofundavam. Foram duas cirurgias para escavar e retirar pedaços do colo do útero até que ele praticamente acabou. Daí, em 2017, não tive outra opção a não ser tirar o próprio útero e dizimar a possibilidade de um câncer. E quando era para eu melhorar, eu piorei.

Depressão, saudades da menstruação, do cheiro, da libido, da minha disposição, de ser quem eu era. Eu deveria seguir ovulando, mas fico imaginando meus últimos óvulos correndo dos ovários e caindo no vazio do que um dia tinha sido o espaço do meu útero. Esse vazio mexeu comigo, profundamente, como eu também não fazia ideia que poderia mexer. Os óvulos se foram, os ovários evaporaram, eu estava na menopausa. Perdão pela escolha de alguns verbos, os termos médicos são mais precisos e corretos, mas aqui estou usando verbos que expressam meus sentimentos, minhas sensações. Meus ovários foram para o espaço, evaporaram no vazio do meu ventre.

À menopausa e ao tratamento de reposição hormonal, vivi uma dezena de tristezas no trabalho e na vida pessoal. Decepções atrás de decepções. Assédios de todos os tipos. Culpa da menopausa? Talvez. Eu não era mais eu. Não tinha coragem, não tinha voz. Eu me acovardei. E a vida exige da gente coragem, mas eu não conseguia reagir para me proteger.

Em janeiro de 2018, após uma festa de réveillon desastrosa para mim, encontrei apoio em um terreiro de Umbanda. Em abril daquele ano, comecei a trabalhar como médium em desenvolvimento. Era a primeira vez em muitos anos que fazia algo que exigia de mim algo diferente de trabalhar, beber com os amigos e cuidar da família. Eu comecei a cuidar de mim em outro plano e também passei a me entender melhor. A terapia, iniciada pouco antes do diagnóstico de HPV, já vinha me salvando, mas a fé completou o auto-conhecimento.

Mas continuei esticando a corda. Em vez de substituir tarefas, elas só se acumulavam. Dessa época até o início da pandemia, foram dois anos puxadíssimos. Até que um novo vírus, o da Covid, veio atormentar a nossa vida. Fugi de São Paulo, fui morar em Campos com filho, mãe e cachorro. O cenário bucólico e o ar puro, me salvaram. Sentia falta do terreiro, que estava fechado por causa da pandemia, e voltei a viver exclusivamente para o trabalho, sem chance de lazer ou paz. Foi, no mínimo, extenuante. Por volta de setembro de 2020, eu parei de falar. Acordava sem voz. Pela hora do almoço, ela voltava, mas eu ia dormir com dor de garganta. Em outubro, tirei uma folga forçada, “para pensar”. Em novembro, licença médica com o diagnóstico de burnout.

Por causa do burnout, fiz um checkup completo com pedidos da psiquiatra, do endocrino e da ginecologista. Agora eu tinha um novo diagnóstico, hipertireoidismo. Fraqueza muscular, cansaço e mais depressão: pela primeira e única vez na minha vida, desejei morrer. Mas graças à minha rede de apoio, à família, aos amigos e médicos, além das minhas entidades protetoras, esse pensamento foi embora. O terreiro reabriu, eu comecei novo tratamento médico e voltei a sentir esperança.

Em fevereiro de 2021, eu me libertei. O plano para soltar as algemas de um trabalho que não me agregava nada além de tristeza e perda de confiança em mim mesma funcionou. Estava livre. Cheia de medos, de perspectivas e de tempo! O hipertireoidismo, ingrato, piorou. Sim, sim, eu estava emocionalmente melhor, mas estourei minha tireoide. Ela não deu conta, tadinha. A corda estourou de vez. Descobri que tenho Doença de Graves, um tipo auto-imune de hipertireoidismo, que entre outras coisas causa oftalmopatia -inflama uma região atrás dos olhos, que ficam saltados, esbugalhados.

Foram meses inglórios. De reclusão, de vergonha. Não conseguia me olhar. Em outubro de 2021, comecei um tratamento agressivo com corticoide. Engordei pelo menos 12 quilos em 3 meses, não tinha sono, chorava à toa, e comia tudo o que via pela frente. As roupas pararam de servir, eu não me reconhecia no espelho.

Nós, mulheres, que assumimos responsabilidades vistas até então como masculinas, também sofremos o desgaste que surge por volta dos 40 anos. O corpo para de atender nossas demandas e se revolta, fazendo com que a gente pare. Pode ser uma parada momentânea, como a que vivi, ou uma parada sem volta. Ainda tenho meus impulsos para uma vida hiperativa, mas se saio de manhã, fico à tarde em casa. Se tenho compromisso à tarde, fico em casa de manhã. À noite, raramente saio. Álcool, só às vezes, a cada duas semanas. Cigarro, nunca mais. A oftalmopatia e algumas sessões de radioterapia para desinflamar a região dos olhos me brecaram. Convivi com doentes de câncer na clínica para radio, saía chorando com o peso da tristeza que parecia contaminar o ar. Depois da sétima sessão senti a força de reação daqueles pacientes. Meu caso é infinitamente mais leve e, de trocar poucas palavras e observar muito aquele pessoal, retomei a esperança. Ela voltou.

A pandemia teve culpa nesse meu processo? Duvido. Eu teria passado por esses desafios de saúde de uma maneira ou outra. O que eu não enxergava era o risco de estar nessa fase da vida, no início da menopausa, com esse nível de stress. Esse conjunto é matador, como coloquei no título, porque paramos de nos reconhecer, nos fragilizamos, quando na verdade ainda temos muita lenha para queimar. Uma mulher de 40 e poucos anos é jovem, pode ser mãe pela primeira vez, pode pintar e bordar, pode ser o que ela quiser. Mas é preciso lembrar que a corda é frágil, e que precisamos cuidar sempre, impor limites o tempo todo, para seguirmos plenas, felizes e saudáveis.

NFT PELA ARTE DIGITAL

MORITZ NETO CRIA PLATAFORMA PARA CONECTAR ARTISTAS AO UNIVERSO BLOCKCHAIN

Um dos primeiros clientes que acreditou na minha estratégia de comunicação acaba de divulgar sua plataforma de venda de arte por NFT. Moritz Neto, um jovem empresário de 27 anos, de Floripa, é um visionário. Desde muito cedo entendeu o espírito do que é ser empreendedor e foi buscar conhecimento e inspiração na Austrália. Em poucos anos desenvolveu projetos audaciosos e, claro, se conectou com o universo do blockchain que estava nascendo. Um terreno novo, pouco explorado e cheio de riscos. A empreitada rendeu grandes contatos, experiências que o levaram a Stanford e um mentor chinês que o apoia em novas investidas.

De volta ao Brasil, desenvolveu estratégias de e-commerce para um setor que só cresce no país, o de produtos de beleza. Democratizou com a importação de apliques de cabelo, em dezenas de tonalidades, para agradar ao público nacional, surgia a Bela Belinda. Depois, com a PinkPerfect, criou máscaras para pele inspiradas nas argilas cor de rosa que conheceu na Austrália, e decidiu que os produtos seriam todos feitos em Santa Catarina, levando para a linha de cosméticos veganos um pouco da vibe local.

Agora lança a DropGen, uma plataforma ainda em beta, para a venda de arte por NFT (token não fungível), e atrai artistas e investidores para uma grande venda non-stop de obras de arte. Um dos grandes beneficiados dessa nova possibilidade é o artista Alex Solis, que arrebatou R$ 12 milhões ao vender 10 mil obras em apenas uma noite!

Sobre esse assunto, Moritz falou à coluna Capital, de O Globo, e contou mais sobre como a plataforma funciona e o que pode acrescentar nesse mercado.

Parabéns, Moritz! Sigamos inovando!

MINHAS AULAS COMEÇAM EM NOVEMBRO

TIRE SEU PROJETO DO PAPEL – JORNALISMO E ANÁLISE NO FUTEBOL

Pensamos um supercurso para quem quer fazer carreira falando, escrevendo e analisando o futebol!

A minha parte fecha o curso com o propósito de ajudar os alunos a tirarem seus projetos do papel. Vou falar de planejamento, propósito, formas e conteúdos para se diferenciar e conquistar audiência.

Mais informações aqui na Sport Science Academy https://sportscienceacademy.com.br/jornalismo-e-analise-no-futebol-aplicado-a-novas-midias/

MARCA PESSOAL

PENSE EM VOCÊ COMO UMA EMPRESA E NUNCA MAIS TENHA MEDO DO DESEMPREGO
Carvalhando e Grimberg

De tempos em tempos, como que por milagre, esbarro com algumas coisas que têm o poder de transformar a minha vida. Foi assim há três semanas quando descobri de verdade o que o @carvalhando fazia e não pensei duas vezes em me inscrever para o curso de Marca Pessoal, lindamente desenhado por ele e pelo @jorgegrimberg, que até então eu nem conhecia (inacreditável não te conhecer! já coloquei seu vídeo em todos os materiais de clientes!). Hoje tivemos a última de quatro aulas, e em cada uma delas fui fazendo anotações estratégicas que ao mesmo tempo que expandiam meu horizonte de carreira também me ajudavam a filtrar e definir caminhos. Foi incrível. Um exercício valioso de auto descoberta e trocas. E o mais acertado de ter sido com os dois esse curso é que sempre, por uma questão mais pessoal do que profissional, tive enorme paixão por arte, arquitetura, moda e design. Expresso um pouco isso na @cabana_bacana – a casa mesmo e não no Instagram. Então muito obrigada @carvalhando e @jorgegrimberg por terem acrescentado tanto e me lembrado de como algumas coisas são tão
importantes para mim.

MUITO PRAZER,

Selfie no espelho do bar #quemnunca

Eu me chamo Ana Lúcia Araújo e, confesso, estava aqui lembrando como era, mais de 20 anos atrás, quando começávamos uma página na web. Ali a um clique do mouse podíamos criar uma nova identidade, um avatar, podíamos ser o melhor de nós mesmos. Mudou muito? Só in-ten-si-fi-cou.

Escrevi “a um clique do mouse” em 1996, no Caderno de Empregos, da Folha, para explicar sobre o que era ser webmaster e webdesigner, uma coisa bem século passado. Fiquei com aquela sensação de “ihhhh essa expressão vai pegar”. Pegou, pegou tanto, que nem vale mais a pena usar, a não ser para contextualizações históricas, claro.

Mas, aqui, sem mouse, a poucos toques de começar tudo de novo, vou me apresentar como sou hoje. Sou a última versão da Ana Lúcia Araújo que nasceu lá em abril de 1974, quando o Sol passava por Áries, exatamente ao meio-dia, em plena Sexta-Feira Santa. Era feriado. Era véspera de Páscoa, aquela conexão toda com morrer e ressuscitar. Pois ali, naquela primeira versão dessa minha vida, o tempo certamente era outro, offline, apegado a costumes e tradições que não sinto a menor saudade.

Aliás, essa sou eu em todas as versões, com zero saudosismo do passado. Eu sempre gostei de olhar para frente, carregando no coração os que amo e tentando ter companhias ao meu lado para seguir em frente. O futuro, a próxima inovação, o que tem de novo no cardápio, a nova tendência e a Bossa Nova sempre me ganharam. Tom Jobim dizia que o segredo para fazer sucesso no Brasil era escrever novo, por isso a Bossa é Nova. Posso ser a Ananova. Aliás Ananova foi o primeiro serviço de notícias pela internet, meio um broadcast. A Ana em questão virou até uma assistente pessoal do serviço, tem uns anos já isso.

E o que eu faço nessa minha nova versão? Eu sou uma mulher, adulta, que às vezes, como agora em que escrevo esse texto, pareço que estou falando de uma outra pessoa e não de mim mesma. Essa Ana aqui já passou por muitas histórias. Mas sigo carregando a alegria de ser mãe do João, de poder trabalhar com o que mais amo que é a comunicação e ter aos 47 anos de idade uma vontade sem fim de começar novos projetos. Eu amo um projeto novo. Tipo começo de namoro (bom, né?). E hoje tenho uns 768 em andamento. Alguns bem reais. Outros muito surreais.

Reorganizar esse espaço virtual pessoal é uma maneira de organizar minhas caixinhas internas e colocar todos esses projetos a um toque de quem pode se conectar com eles.

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